A pantomima da ética fascista e das
bravatas de Luiz Inácio Lula
Publicado em 10/03/2016
Editorial da edição nº 166 de A Nova
Democracia, 2ª quinzena de março de 2016.
Fausto Arruda
O show pirotécnico do monopólio dessa
imprensa reacionária, sedenta por um fato político que faça
esboroar de vez a gerência petista com o impeachment de Dilma, é
mais um capítulo do espetáculo vergonhoso em que se desembocou a
política oficial do Brasil e da qual é parte o grande fracasso do
oportunismo petista no gerenciamento do velho Estado.
Essa imprensa reacionária, amamentada
nas tetas do regime militar fascista, depois de se esbaldar
com as verbas publicitárias e negócios à custa do erário público nas relações com o gerenciamento petista, insiste em posar de vestal da moral e da ética puritana, num verdadeiro frenesi por flashs dos melhores ângulos de dirigentes petistas sob coerção ou algemados. Armam todo esse raivoso espetáculo midiático contra Luiz Inácio e PT porque estes foram, em um dia já remoto, gente de esquerda.
com as verbas publicitárias e negócios à custa do erário público nas relações com o gerenciamento petista, insiste em posar de vestal da moral e da ética puritana, num verdadeiro frenesi por flashs dos melhores ângulos de dirigentes petistas sob coerção ou algemados. Armam todo esse raivoso espetáculo midiático contra Luiz Inácio e PT porque estes foram, em um dia já remoto, gente de esquerda.
Tamanha espetacularização da “delação
premiada” de Delcídio do Amaral e da operação da Polícia
Federal no “Instituto Lula”, na residência e em outros lugares
frequentados por Luiz Inácio e sua família, já é parte de um
cenário duma escalada fascistoide, da ditadura de promotores (gente
conservadora, reacionária e antipovo) e da Polícia Federal. A múmia
PSDB e outras siglas da “oposição”, municiadas pelas
trapalhadas do PT, pretendem elevar a Polícia Federal e os tribunais
apodrecidos do velho Estado a heróis anticorrupção e reservas
morais do país!
Esta foi a maior, até agora, das
pantomimas da ética fascista que assola o país e que deu rendas à
última bravata do senhor Luiz Inácio.
Após seu breve depoimento, executado
da forma abusiva com que este Estado reacionário dispensa
sistematicamente ao povo, Luiz Inácio cometeu o discurso que
esperava nunca mais ter de fazer: ameaçar voltar a ser o PT radical
de seus primeiros anos de vida. E o fez porque caiu na real de que,
mesmo depois de tudo que fez pelos banqueiros, pelas montadoras,
pelos usineiros e pelos latifundiários, eles demonstram não
precisar mais de seus serviços, pelo menos e por hora à frente do
gerenciamento de seu Estado.
Na verdade, se trata de que a crise do
imperialismo e seu reflexo aqui neste país semicolonial/semifeudal —
que o PT e demais oportunistas quiseram dourar como potência
emergente, membro e “liderança do bloco” do futuro poder mundial
(Brics) e outras tolices mais — atira as diferentes frações das
classes dominantes locais numa luta desapiedada para ver quem vai
seguir por cima e quem terá de se contentar como sócio menor. E
esta briga se processa através dos grupos de poder e as diferentes
legendas do Partido Único das classes dominantes, que se servem das
denúncias de corrupção e das campanhas de moralização. A
corrupção como modus operandi da gestão da coisa pública e as
campanhas de moralização como demagogia para desqualificar o
opositor e fazer passar seus promotores por campeões da honestidade
e salvadores da pátria.
Luiz Inácio, indignado não sem razão,
porém sem abandonar seu discurso manhoso, com palavras bem medidas e
na busca de comoção popular, contou, mais uma vez, sua sina de
nordestino que, na infância, por milagre, escapou da morte. Como se
sente e acredita ser um escolhido, fruto de milagres, narrou os
outros nos fatos de ter “obtido um diploma de torneiro mecânico”,
ter adquirido “consciência política e fundado um partido” e,
por fim, “ter sido eleito presidente do país”.
Arrogante, Luiz Inácio não esconde
mal conhecer a história da classe operária brasileira e de
desdenhar o que conhece. Pelo menos acontecimentos — como
sobreviver à miséria, obter diploma de curso profissionalizante e
adquirir consciência política — tão comuns nas vidas de milhares
de brasileiros pobres e simples, na vida dele ganha chancela e benção
de milagres. Muito antes dele ser inflado no cenário político como
liderança popular, dado seu perfil anticomunista, milhares de
operários foram perseguidos, presos e torturados por lutarem em
defesa dos direitos da classe. Milhares de dirigentes populares
politicamente avançados, ao longo de nossa história, foram
brutalmente eliminados pelos aparelhos repressivos do velho Estado
brasileiro por sua militância comunista revolucionária. No próximo
25 de março se completarão 94 anos que um grupo de operários
fundou o Partido Comunista do Brasil (PCB).
Além do que os poucos direitos dos
trabalhadores — seja a jornada de 8 horas, direitos a férias
remuneradas, salário mínimo, 13º salário, direito à estabilidade
que foi arrancado pelos milicos, bem como os direitos previdenciários
sob o bombardeio de todos governos e essa imprensa monopolizada nos
últimos trinta anos, dentre outros — foram conquistas arrancadas
com muita luta e os sacrifícios das vidas de inúmeros autênticos
líderes operários, os quais nunca se arvoraram à ambição
personalista de salvador da pátria. Tudo isto se conquistou bem
antes de se cogitar sequer a existência do PT e da CUT. E estes são,
de fato, os únicos direitos dos trabalhadores. Nada de substancial
foi conquistado depois da existência do PT e da CUT, ao contrário,
a ascensão destes ao gerenciamento do velho Estado representou a
desmobilização dos trabalhadores, uma cooptação do movimento
sindical pior que no período varguista e a imposição da ilusão de
trocar a luta combativa por promessas eleitoreiras.
Personalista, megalômano e
egocêntrico, Luiz Inácio acredita piamente ter sido o “melhor
presidente do país”. Com as sucessões de governos reacionários e
medíocres que conformam a história de nosso país, ser o melhor
entre eles não seria nenhuma façanha. Porém, pelos próprios
critérios que faz sua comparação, sequer chega ao pé de um
Getúlio Vargas (mesmo tendo este caudilho sido um tirano aderido ao
fascismo por certo período). E menos ainda no chinelo de um João
Goulart, pois Jango sofreu as maiores sabotagens desde o primeiro dia
de governo e nunca chamou usineiros de heróis. Muito pelo contrário,
apoiou os trabalhadores que combatiam estes sanguessugas. Goulart,
mesmo sendo um burguês nacionalista e vacilante, foi derrubado por
um golpe civil militar organizado e sustentado pelo imperialismo
ianque porque, de fato, tentou levar a cabo o projeto de seu grupo de
realizar as “reformas de base”, a começar pela reforma agrária.
Minusculamente, o PT, Luiz Inácio, Dilma, a cambada oportunista do
PCdoB e demais “fisiológicos” armam hoje a gritaria de “golpe”
porque estão a ponto de serem depostos constitucional e legalmente,
por votação do congresso que legitimam como a mais democrática das
instituições.
Nesta altura dos acontecimentos, ainda
que não se conformam, Luiz Inácio e seu PT já se deram conta que
estão colhendo o que semearam. Outro dia mesmo não eram eles que
instigavam o show midiático-policialesco da prisão com algemas de
adversários? Quem não se lembra da farsa cinematográfica
protagonizada pelo governo de Luiz Inácio, em 2008, quando das
prisões de Daniel Dantas, Celso Pitta, Naji Nahas e outros notórios
bandidos pela Polícia Federal? Prisões e apresentações dos presos
algemados, as quais realizadas com o mesmo espetáculo, filmadas pela
própria polícia e com os toques da produção global.
Apologistas deste velho Estado,
embelezadores desta democracia corrupta e podre, passaram décadas
falando de supostas elites para escamotear e esconder do povo
brasileiro seus verdadeiros inimigos de classe: o imperialismo, a
grande burguesia e os latifundiários. Deve ser o seguinte, que as
elites de que falam são umas “más elites” que disputam o
gerenciamento do Estado com outras “boas elites”, estas com as
quais se locupletaram com as propinas e o erário público. Isto,
apesar de eles, Luiz Inácio e o PT, como os demais governos
anteriores, terem proporcionado a todas elas, inalteradamente, todos
os privilégios e os maiores lucros, como sempre fez questão de
gabar-se o milagroso, referindo-se ao seu governo: “Nunca na
história deste país os banqueiros lucraram tanto”.
Por fim, Luiz Inácio atacou “alguns
meios de comunicação” e chegou a nomear a Rede Globo, para a qual
havia se derretido após ter sido eleito presidente. E, conclamando o
PT a reagir e recomeçar do zero, avisou: “Acharam que bateram na
cabeça da jararaca, mas bateram foi no rabo…”. Bravata! Ninguém
mais do que Luiz Inácio sabe que os militantes do PT — que algum
dia tiveram ideias progressistas e mesmo socialistas — ou já
pularam fora do barco pela traição do projeto inicial ou
envelheceram acomodados em altos cargos e burocracias estatais. Não
poucos destes são os novos ricos do país. Os novos membros do PT,
os filiados desde sua ascensão ao topo do velho Estado, entendem
outra coisa por militância. São todos gente direitista,
carreirista, todos ávidos por cargos rendosos. Luiz Inácio sabe que
seu PT, longe de ser uma jararaca, está mais para um capado. Não
tanto pela sujeira própria dos suínos, mais pelo parasitismo deste
exemplar. Resta a Luiz Inácio entender seu papel em tudo isto, já
que é ele o grande líder desta “façanha histórica”, como
gosta tanto de jactar-se.
Ao final aí está o que o PT e todos
oportunistas de sua “frente popular” conseguiram com seu “projeto
para o Brasil” via velho Estado genocida e sua democracia feita de
cretinismo parlamentar e negociatas corruptas: enlamear a honrada
legenda da esquerda; conseguiram dar palanque para a velha direita se
levantar. A canalha da extrema-direita, entrincheirada no meio da
grande burguesia, dos latifundiários, das igrejas e também nas
hostes das classes médias, forçam a barra tachando o PT e demais
oportunistas eleitoreiros com a etiqueta de “esquerda” e até
mesmo de “comunista”. Isto constitui num insulto repugnante à
verdadeira esquerda, aos verdadeiros comunistas e à gloriosa memória
dos heróis e heroínas de nosso povo que consagraram suas vidas à
causa da independência nacional, da democracia popular e do
socialismo.
Mas todo este prejuízo não é nada
diante da exploração continuada de nosso povo, da miséria, da
opressão, da repressão sistemática e incessante que suporta nas
favelas, bairros pobres e no campo. Mazelas que o PT, Luiz Inácio e
seus compinchas tentaram encobrir com muita propaganda ilusionista,
créditos para endividamento das massas pobres e programinhas
assistencialistas recomendados pelo Banco Mundial, em troca de votos.
Mas a crise se aprofunda e as massas estão se levantando, a luta
continua!
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